sexta-feira, 13 de maio de 2011

LIBERTA!












Meu Irmão é Professor, minha irmã é a primeira Doutora Negra em Vigilância Sanitária,
eu sou Bacharel em Comunicação. Minha mãe se aposentou como Técnico em Nível Superior, e é nossa Mestre de Baianidade Nagô e Mentora Espiritual. Com ela, aprendemos Culinária Afro-Baiana, Religiosidade Ecumênica, Sambar(que não é tarefa fácil), Fazer Versos.
Meu pai é Autodidata e nosso Mestre e Mentor Intelectual.
Na Universidade Livre Dom Kelé nós aprendemos Latim, Inglês, Cinema, Ciiências Políticas, História do Povo Negro, Moda, Saber Entrar e Saber Sair, Contar Piadas, Torcer pelo Mengão, se encantar com a Estação Primeira de Mangueira, Ser Negro, Ser Brasileiro.
Minha falecida Tia Gildete terminou o Segundo Grau e foi nossa Mestre em Educação Doméstica.

Os Pretos Velhos são Formados e Politizados, lá em casa. Minha Irmã foi capa de Revista de Química e Minha Mãe foi capa do encarte do Globo Zona Oeste, mais de uma vez.

Mas mesmos que nossos ancestrais tenham sido oficialmente libertos em 1888, hoje em
2011, nós ainda somos vistos como Ícones da Raça, porque o Brasil de uma maneira geral ainda não se libertou desse estigma do "negro que deu certo".

Então no dia de hoje eu rogo as Almas dos Cativos para que libertem o Brasil que ainda se encontra escravizado ao preconceito.




Levanta cedo, meu filho ,
Que o Velho quer caminhar
Levanta cedo, meu filho,
Que o velho quer caminhar
A estrada é muito longa
Velho anda devagar,
É devagar, é devagarinho,
É devagar, é devagarinho,
O filho que caminha com o velho
Nunca fica no caminho
O filho que caminha com o velho
Nunca fica no caminho
( Chica Xavier)



quinta-feira, 12 de maio de 2011

DELIVERY GIRL

Olha o cair da tarde no Sapezal como é lindo!!!
E olha que minha máquina não tem muitos recursos,
eu fotografo com o coração, porque não sou fotógrafa
e faço isso através da janela do onibus, que passa sobre
quebra-molas, freia bruscamente, entra com a roda
nos buracos e chacoalha como uma carroça.
Mas a paisagem é tão divina, que o produto final nem carece de retoques.
Papai do Céu é o autor dessas aquarelas, e eu só a moça da entrega!!!







quarta-feira, 11 de maio de 2011

"OLHANDO PRA DENTRO"









Ontem, (10/5), eu peguei uma carona com meus pais para voltar para casa
e Mãe Chica parecia que estava cochilando, enquanto eu, Dom Kelé, nossa
amiga Dedé e meu primo Jorginho conversávamos. Falamos de como era
complicada a opção de se morar na roça, e precisar vir ao centro da Cidade
para resolver as coisas. Falamos de como o tempo parecia voar. Falamos do
cansaço que a ''excursão acidental'' provocava para quem, como eu tem
que atravessar a cidade cinco dias na semana. Lamentamos o fato da nossa
amiga não ter sido ciceroniada como merecia, por total falta de tempo nossa.
E por aí fomos......Lá pelas tantas Mãe Chica, que só estava ''olhando para dentro'',
mas não estava dormindo, dispara: - ''Quem tem tempo faz colher e borda o cabo!''
Ou seja, ela estava analizando nosso papo e esperando como a grande atriz que é,
para que nós déssemos a ''deixa'' para ela entrar com seu adágio baiano!
Eparrêi!
Tempo Zara Tempo!



terça-feira, 10 de maio de 2011

A VIAGEM II !





Pode ser até que eu carregue coisas demais sobre os ombros: uma bolsa grande, uma sacola e uma pasta.
Mas geograficamente, Sepetiba é o bairro mais longe do Centro da cidade. Eu e parte dos habitantes do Sapezal, cruzamos ida e volta o equivalente a vários países da Europa, durante toda semana. E quem vai viajar tem que levar bagagem. Na minha bagagem eu carrego comida (café da manhã e almoço), guarda-chuva, um par de sandálias (pq na ZN quando chove alaga)secas, uma máquina fotográfica, (pq a cidade é linda!), espelho, lenço de cabeça ou touca de lã, casaco ou xale, uma bolsinha de remédios, cabo usb (de que vale tirar fotos se não poder descarregar?), carregador de celular, celular (e eu sou uma das poucas pessoas no Rio que só tem um celular e não tem rádio-Nextel), agenda, carteira, vale-transporte, crachá, balinhas, patuás,
terços, canetas, blocos de anotações, óculos escuros, chaves....o trivial indispensável para se passar um dia.




Na volta além da marmita vazia, eu sempre trago uns livrinhos que a galera doa para as minhas bibliotecas e umas comprinhas de mercado. Mas tanto na ida como na volta os coletivos estão sempre lotados, e na hora de desembarcar, os rodoviários que pegam carona, viajam nos degraus dos onibus impedindo a passagem!
E eles também carregam mochilas com seu casacos, marmitas, Bíblias e etc. Aí eu tento passar entres eles, que não saem de seus lugares e só encolhem a barriga e ficam nas pontas dos pés. Eu me contorço igual aos malabaristas do Cirque de Soleil e xingo eles todos, enquanto esfrego minhas bolsas e sacolas em
suas panças protuberantes, que eles acham que estão encolhidas. Eles não me retrucam e fazem cara de paisagem, para depois fazerem suas piadas particulares com o motoristas, como meninas falando dos meninos em conversas de banheiro. Nesses desembarques eu já perdí brincos, já tropecei, e já quase fiquei sem roupa!
A parte mais estranha dessas viagens é quando eu acordo durante a viagem, e na fração de segundos em que, ainda não abrí os olhos, eu me pergunto dois coisas: estou indo ou voltando? quantos dias faltam para minha alforria, digo, aposentadoria?
Viva Deus!

ENVIE UMA CARTA - CARTA!


Oranyan disse a uma amiga nossa, Dedé da Bahia, que quando ela retornar a salvador mande uma carta-carta para ele.
Ele disse que na casa dele (nossa) só chega carta-conta pra pagar. Ele quer receber carta-carta!
Embora ele seja uma criança do 3o milênio, ele quer experimentar a sensação de receber uma correspondência social, uma carta para Oranyan.
Como mostra o desenho feito por ele, ele é bem filho da mãe.
Boa Semana para todos
Beijos
Bela

A VIAGEM !


Pra começar o motorista do onibus 898-Sepetiba/Campo Grande, nem conhecia o itinerário
da linha para qual estava dirigindo. Isso quer dizer que as 3:42 da madruga, nós os primeiros passageiros, já tínhamos que estar em alerta para guiar o novato! Mais adiante, ele passou pela esquina da Rua do Iate e avistou, com olhos de lince, uma passageira caminhando para o ponto. O novato deu ré no coletivo e ficou esperando a passageira, que deve ter no máximo uns trinta anos, mas que mesmo vendo a boa vontade do motorista continuou vindo no mesmo passinho. só fui perceber quando ela embarcou, o motivo de tanta lentidão: ela estava com uma collant decotadíssima, então se ela corresse, as malacas saltariam do decote e bateriam no queixo dela! Ao subir os degraus do onibus, ela primeiro ajeitou o decote embutiu as tetas para depois passar o vale-transporte, e nem agradeceu ao solicito rodoviário.
Seguimos viagem e o micro lotou de tal forma, que parecia que era ''bacurau''(onibus que transitam durante a madrugada).
Cabe aqui uma explicação: os onibus de linhas são divididos em microonibus, micrão, buzão, fresquinho e frescão. As duas primeiras categorias foram idealizadas com o intuito de não carregar idosos,estudantes e gestantes ou mães com crianças pequenas, e muito menos deficientes físicos. Isso porque os onibus são extremamente estreitos, sem segurança, sem trocadores e com roletas estreitas. O buzão não tem manutenção, não tem ar condicionado e as cadeiras são horríveis, mas tem corredores mais largos e alguns tem elevador para cadeiras de rodas. O fresquinho é o buzão com ar condicionado + ou - .
O frescão é o também conhecido como ''tarifa'', é o único com cadeiras reclináveis e uma porta só, os outros tem duas portas, mas também não tem trocador como o micro e o
micrão. O motivo de eu ter mencionado a falta de manutenção dos onibus é porque todos
eles tem três cameras a bordo para impedir que os rodoviários façam a chamada ''mão
de macaco''.
Quando chegamos a Santa Cruz, depois dessa viagem, já havíamos nos tornados velhos conhecidos, porque ficamos todos muuuuuito próximos. Eu, que embarco quase no ponto final, já conheço as caras, os uniformes, alguns nomes, os times pra quem torcem, quem fuma e quem não, quem vai de trem, quem segue para Campo Grande, quem cortou ou pintou o cabelo, as essências.......as roupas das ruas.............

AS MÃES!


Acabei de ver num site, uma matéria sobre os vários tipos de mulheres-mães dos nossos tempos.
A revista retratou mães solteiras, mães adotivas, mulheres que foram mães ainda adolescentes, mães maduras, um casal de mães homossexuais, mães com muitos filhos, mas todas caucasianas.
Aí, eu lembrei que minha mãe quando criança, tinha uma madrinha chamada Maria José de
Santana, e como ela estudava na ala ''baixa renda'' da Sacramentina, ela passava bastante tempo com essa madrinha. Dona Maria José era lavadeira, como minha Avó Dionísia, mas nós estamos falando da Cidade de Salvador/Bahia dos anos 40. Então, mesmo sendo lavadeira, Dona Maria José morava na Ladeira da Gamboa, e se vestia com mais esmero porque ganhava muitas roupas de suas freguesas que a viam como uma ''semelhante desterrada''.



Francisquinha era o xodó da dinda solteirona, que a levava as missas aos domingos na Igreja de Nossa Senhora dos Aflitos e na volta a levava para assistir aos programas infantis da rádio PRA4 Rádio Sociedade da Bahia. Só havia uma coisa que a madrinha zelosa rogava aos céus: nunca ver a afilhada envolvida com o Candomblé! Ela preferia ver Francisquinha num caixão a vê-la vestida de ''baiana'' com ''guias'' no pescoço. Oxalá foi tão bom para as duas, que elas conviveram direto até os 9 anos de Francisquinha, e só aos 11 anos ela bolou no Santo com Seu Boiadeiro!






Voltando a matéria e a Ladeira da Gamboa, uma coisa que minha mãe não esquece dessa época, é que quando ela passava com a madrinha de mãos dadas, um ''maluco-beleza'', chamado Ladú, vizinho delas, bradava, enquanto balançava o braço, devido a um tique nervoso:
''A filha de Dona Maria é prrrreeeeeettttaaa!!!!!''